Era uma vez em Macau, algures em 2003...

Hoje, no mês dos Diabos Esfomeados, a noite está esplêndida. Começou com um crepúsculo de reflexos suaves da linha de edifícios de Macau sobre as águas do Rio das Pérolas, enquanto a lua planava baixo e se ia inchando de amarelo como um poste de luz da ponte Nobre de Carvalho. Depois, subiu que nem um balão e fez-se branca, e a noite chegou trajada de sombras azuis; mas o céu sobre Macau nunca fica escuro, antes brilha com luzes que dançam nos céus. A noite é a Torre de Macau, toda iluminada, com dois feixes de luz, um branco, outro azul, que se perseguem nas nuvens como dois amantes desencontrados; é o Hotel Lisboa, cabeça do dragão, carregadinho de luzes amarelas e os neons multicolores das lojas; são as pontes entre Macau e Taipa, arqueadas de luz como de um dragão; é o ronronar permanente dos motores das sampanas que deslizam nas sombras do rio; é o incenso dos pivetes que assinalam as oferendas de comida, bebida, e dinheiro aos diabos esfomeados, transformando a cidade num enorme templo; é Macau, em todo o seu calmo esplendor noturno, que quando olhamos pensamos que dorme, mas, na verdade, pulsa de vida.

Noutras vezes, as noites foram alucinadas, suadas, cheias de luzes a gritar e fantasmas que cobram dívidas. Raparigas de vestido colado à pele, que circulavam no antigo Hotel Lisboa à procura de algum sortudo que tivesse ganho ao jogo — ou de um miserável à procura de consolo. Tsing Tao, cigarros, nas esplanadas da Avenida Dr. Sun Yat-Sen, no NAPE; ou então, Long Island Ice Teas no Sands Macau ou no Lion’s Bar do MGM.

E depois terminar no MP3, na cave do Hotel Royal, onde uma vez entrei sóbrio e parecia que estava no lobby do hotel com os lagartos deformados do Fear and Loathing in Las Vegas. Jurei nunca mais lá voltar a entrar sóbrio.

Or end up in D2, like that one time where a foreigner was dancing with a girl, and he danced and danced while I was leaning on the bar, ordering drinks and watching my signature on the visa receipt get more and more aeroglyphic... and when he came over he asked, "Do you think she's a hooker?"

I said, "Everyone's a hooker here, mate."

E depois, com a cidade a despertar, atravessar a Ponte Governador Nobre de Carvalho, no crepúsculo dourado de um novo dia, em direção à Taipa.