Encontro-me de novo na ilha.
O areal branco estende-se à minha frente — uma língua de areia entre a linha de coqueiros curvados, que marca o início da selva, e a espuma das ondas. Ao fundo, um promontório assinala o fim da baía. Hoje o céu está azul, com alguns farrapos de nuvens. Aqui, o sol é quente, mas nunca queima. Cheguei como sempre: descendo os degraus escuros até à cave. Ao centro, uma armadura de bronze — capa encarnada a cair pelas costas, elmo com crina vermelha no topo — exposta num corpo invisível. Abri uma porta à esquerda. Uma luz branca encheu-me a vista, e assim que desci os pés na areia da ilha, a porta desapareceu atrás de mim.
De todas as vezes que aqui estive, nunca saí da praia. Hoje entro na selva. A vegetação fecha-se sobre mim. À medida que avanço, o som das ondas esmorece. Estou cercado de verde espesso: troncos altos, folhas de bananeira, raízes fora da terra. O ar é húmido, quente, rarefeito. Ao fim de algum tempo, chego a um rio que corta a floresta. As águas são barrentas, lentas. Um caimão desliza, longo e imóvel, com os olhos fora d’água.
Na outra margem, entre uma bifurcação no tronco grosso de uma árvore — debruçada sobre o rio — surge a cabeça de um jaguar. Primeiro as rosetas negras sobre o pelo amarelo-acastanhado, depois os olhos: fixos, fundos, de predador. O felino avança furtivo pela árvore, de olhos cravados no jacaré que desliza, alheio, logo abaixo. Num pulo, o jaguar lança-se sobre o réptil e ambos desaparecem nas águas. O corpo do jacaré gira, a cauda agita o rio, numa dança de vida e de morte.
Depois de um minuto, o jaguar emerge. Sobe devagar à margem. Desta vez, o esforço foi em vão. A presa escapou. A selva cala-se por um instante. Depois respira de novo.